Evento convocado pela gestão Doria tem secretário sem máscara e aglomeração de educadores

ISABELA PALHARES, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foto: Rivaldo/Folhapress/Folhapress

Uma reunião, convocada pela gestão João Doria (PSDB), levou milhares de diretores de escolas a ficar aglomerados na manhã desta quinta-feira (30). O secretário de Educação, Rossieli Soares, estava no evento e dispensou o uso de máscara ao falar com os educadores.

Dois deputados estaduais da oposição entraram com representação no Ministério Público do Estado de São Paulo já nesta quinta pedindo a suspensão imediata do evento, que segue até sexta (1º).

A Secretaria de Educação convocou 4.000 diretores para participar da reunião, marcada para acontecer em Serra Negra, município no interior do estado (a aproximadamente 150 km da capital paulista). Desde que foi feita a convocação, sindicato e educadores já reclamavam do risco desnecessário ao qual o governo expõe os profissionais e, consequentemente, os alunos.

Imagens do evento mostram milhares de diretores acompanhando a fala do secretário de educação na manhã desta quinta. Nas fotos, é possível ver que os educadores não estão a mais de um metro de distância uns dos outros.

Há ainda imagens que mostram educadores sem máscara. O próprio secretário dispensou o uso da proteção facial ao subir no palco para falar com os diretores.

O uso de máscara é obrigatório em todo o estado. Inclusive, há previsão de multa para quem descumprir a medida, como foi o caso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já multado seis vezes pela gestão Doria por não usar a proteção.

Em nota, a Secretaria de Educação disse que “para melhorar a comunicação, o secretário ficou parte do tempo em que se apresentou sem máscara, mas ainda assim mantendo o distanciamento dos demais presentes no palco e do público em geral. Voltando a recolocá-la ao término de sua apresentação.”

Educadores, de todas as regiões do estado de São Paulo, foram convocados a viajar à cidade para participar do evento. Com três dias de duração, ele foi programado para discutir a implementação das ações do novo ensino médio no próximo ano.

Diretores relataram à reportagem que estão passando por situações de aglomeração desde que deixaram as cidades em que trabalham. Eles dizem ter viajado em ônibus cheios, ter enfrentado filas para entrar no evento, além de não haver a garantia do distanciamento de um metro no centro de convenções onde ocorre a reunião.

“A secretaria e o governo do estado estão descumprindo as próprias regras. Se eu deixo meus alunos se aglomerarem dessa forma na minha escola, eu posso sofrer um processo administrativo. Por que com a secretaria de educação é diferente? Eles estão nos colocando em risco”, disse o diretor de uma escola da capital. Ele pediu para não ser identificado por medo de represália.

Os diretores também terão de dormir em hotéis da cidade. Um deles relatou que foi acomodado em um quarto com outros três profissionais. A Secretaria de Educação liberou duas diárias para profissionais que atuam em escolas a até 280 km de Serra Negra e três para os que atuam mais longe.

Já nesta quinta, os deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL) e Maria Izabel Noronha (PT) entraram com duas representações no Ministério Público para a suspensão imediata do evento.

“A realização deste evento é de um absurdo sem precedentes, um crime contra a saúde pública e contra a saúde dos profissionais da educação que ali estão reunidos. Deste modo, e com a urgência que a situação demanda, solicitamos a tomada de providências para suspender a realização dessa aglomeração promovida pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, como medida de respeito à saúde dos profissionais envolvidos”, diz o pedido de Giannazi.

Noronha, que também é presidente da Apeoesp, principal sindicato da categoria, também pede ao Ministério Público que a Secretaria de Educação apresente justificativa para promover o evento de forma presencial e informe os custos para realizá-lo.

Questionada pela reportagem sobre o valor para custear a reunião, a pasta não respondeu.
Em agosto, com a queda de internações por Covid em São Paulo, Doria liberou a realização de eventos sem limitação de público no estado. Apesar de autorizados, os eventos devem respeitar regras, como uso de máscaras e de álcool em gel e o distanciamento de um metro.

Em julho, Doria testou positivo para Covid pela segunda vez, três dias após participar de um evento com mais de mil educadores. Na ocasião, a Secretaria de Educação disse que a reunião tinha sido segura por ter contado com a testagem de todos que estiveram presentes no local.

No evento desta quinta não houve testagem prévia dos educadores. A secretaria informou que o evento estava em conformidade com as regras sanitárias do estado e que 93% dos profissionais público-alvo da reunião estão com esquema vacinal completo.

Questionada sobre não ter garantido o distanciamento mínimo obrigatório entre os educadores, a secretaria não respondeu. No entanto, afirmou que, no período da tarde desta quinta e de sexta, iria adotar uma “nova distribuição” no evento.
Os educadores, que se deslocaram de outras cidades até Serra Negra, serão redistribuídos em um outro auditório para acompanhar a reunião por um telão.

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